domingo, 22 de maio de 2011

Quem Sou


Às vezes me vejo
A sobrevoar pessoas
Águia em disfarce
Que desvenda e traduz...
Outras vezes sou apenas
Mulher, margarida
Ou gotas de chuva
Sempre sou pura magia..
Canto aos ventos
Entre poções e rosas
Saudações ao sol e a lua
Em secretos lugares
Bailo com fadas
Beijo duendes...
Muitas vezes sorrio
E outras choro
Me torno e me espalho
Quebra-cabeça alheio
Me acho por atalhos
Caminhos meus...
Quero o bem-me-quer
Que mora na pétala!
Um pedido de amor...
Busco o lilás escondido
Na nuvem alva que vive 
E morre no final da tarde
Cavalgo para a noite
Que convida a alma e
Clamo a Divina manifestação de sonhos
Que o caminho seja manso, claro e
Corro como as estrelas errantes
E navego mares de luz
Pois sou a guerreira das chamas
Que adora o poder do fogo
Desnuda-se as profundezas d’água
Rende-se aos segredos da terra e
Dança na fluidez do ar...
E entre sons de sinos e trovões
Transbordo em vinho quente e paixão
E apesar da sutileza da dor
Não me engano e não me esquivo
Daquilo que chamam amor!

Valeska de Gracia


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DESPERTAR

Rego-me toda a pele em flor, onde cada poro é vida intensa, pulsando em um nível infinitamente maior do que me possa entender Ser.
Desprezo toda a certeza que insiste em ser a certa.
Aqui inexiste o erro, o acerto, pois a experiência valida toda a busca em si, por si.
Pressinto a alma ciente, que me fita com doçura enquanto miro-me em frente ao embaçado espelho que me redescobre todos os dias.
Estou mulher...
Em uma mistura de sabores picantes, cores difusas, sons profundos...
Sou um silêncio provocante, que nutre, intriga, insinua...
Sou como a onda que arrebenta em rocha sólida,
Sou a ânsia que antecede o impacto...
Sou o breve intervalo entre a bravura das águas e a serenidade da rocha,
Sou a espuma branca que nasce da força do confronto, os sons do fluxo...
Sou o ritmo, o movimento lento, a expansão em cada ida e vinda, que esvanece em êxtase.
Sou algo que se move em mim, por mim, sobre e em torno de mim...
Um algo que não explico, sinto.
Uma energia calma, reconfortante, mas ao mesmo tempo excitante, ligeiramente inquieta.
Sinto-me levada por essa suavidade quase sensual, convidando-me a uma dança mística de Cósmica Luz.
Já não sou mais eu, mas eus que se unem e se completam, se reconhecem e se exclamam sem expectativas vãs, apenas aconchegam-se em fusão, em uníssono.
Percebo a verdade intrínseca...
EU SOU inteira, nítida, nua, despida de todos os irrefletidos artefatos e artifícios que dantes me cobrira.
EU SOU a que tudo sabe, a que tudo vê, a que tudo compreende, a que tudo ama...
Sou o UNO particularizado no TODO que vibra no AGORA em que me reconheço,
Sou Essa e sou aquela...
Sou todas e mais algumas...
E sem alardes, sem culpas, apenas deixo-me inundar por essa energia opulente, vibrante, eterna, que me abrange, transcende e unifica.

EU SOU CÓSMICA LUZ

Valeska de Gracia

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A Queda

Na transcendência de amores e ausências
Em cores gélidas das noites claras
Entre coxas mornas em insones horas
Surge candente, voraz despojamento

Acordam pudicos poros em acordes roucos
Sinfonia muda por entre meios, seios majestosos
Fêmeos magnetos que aguardam mansos
Lúcidos, enigmáticos.

No imenso espaço das possibilidades insanas
Sons quietos despertam em lascivo sonho
No corpo quase cândido, incólume
Onde o sôfrego desejo é inócuo, insonoro

E por impecável nascente
Transborda-se em volúpia agreste
Bordando a alva renda da
Alma santa, reta, esfomeada
De luxúria rubra, crua...insólita.

Valeska de Gracia


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