quarta-feira, 22 de junho de 2011


Nua

A estrada e eu...

Uma mesma natureza
Noite, dia, idas e vindas
Despojos e possibilidades
Uma só

A estrada e eu...

Curvas soltas em
Abandono e perigo
O inesperado aguarda a espreita
O passo vago, o passo certo

A estrada e eu...

A noite suspira caída
Arrepia a pele em flôr
Eriça folhas pêlos
Atiçando a boca
Louca por horizontes

A estrada e eu...

De infinito em infinito achada
De terra batida e rachada
Brota urgente, bramida
Lágrima seca, aflita
Feito fome de amanhecer
Ávida por vida e pão
Caminhos, chuvas e sonhos

A estrada e eu...

Nua.

Valeska de Grácia

segunda-feira, 20 de junho de 2011

De caminhar fiz o caminho, e nele flores e espinhos reparei
De agonias e sorrisos fizeram-se momentos de glória e expiação
Razão e dúvida me açoitaram até poder me desatar daquilo que não sou
E a partir das sombras acendi no lume de que sou mais do que vejo em mim, em ti.
Reflito no espelho do agora, refeita em um algo além do meu óbvio
Envolvida na transbordante paixão da alma que transcende o corpo são
Sem medo do mergulho essencial do qual não se retorna jamais... 
Amanheço.

Valeska de Gracia

Apenas necessito gritar em palavras as tempestades que agitam o mar em mim. 
Expressar é como respirar após longa chuva o ar limpo das noites de verão.
Minha alma afoita sabe que precisa do espaço, do ímpeto, do pulsar.
As idéias vêm e vão como um balanço nos galhos de farta cerejeira
Caem os frutos nas mãos vazias e me nascem doces em versos.
O sabor preenche-me de súbito perfume primaveril...
Lambuzo-me nesse néctar, cresço, rejuvenesço, pouso em mim.
Sou aquilo que ressoa no breve espaço entre a vírgula e o meu próximo despir;
Me despojo entre as linhas derramando-me no vácuo da folha alva e nua,
São pedaços sem sentido, mas só para quem não sente o que pressinto.
E antes que o ponto final revele, me entrego.

Valeska de Gracia

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Amo os dias de chuva.
As noites ainda mais.
Recordo-me do conforto e acolhimento que há em mim.
Faz perceber gota a gota o quão infinita é a vida
E a minha desperta mais a cada relâmpago que rasga o céu.
O trovão ressoa em minha alma, permitindo-me um espaço em seu reino...
 E me faço inteira, liberta, serena.
 Na amplidão desse sentimento vejo que tudo em mim é o tudo que há em torno...
A terra molhada  
O perfume agreste
O som difuso
A alegria das rosas
Tudo vibra em mim
A chuva em toda a sua essência sou eu, feliz.

Valeska de Gracia

segunda-feira, 6 de junho de 2011

As subsequências dos dias me entediam. 
Busco os segundos de elevação, que se estenderiam eternidade afora. 
Queria ser uma surrealista cotidiana, pintaria momentos como se fossem breves pontos de luz, manifestando a imensidão da vida.
Queria ser a voz que expressa anseios imaginários de todos aqueles que emudecem em seus porões. 
Há dias que a graça me abandona. 
Mas tenho dias de ardor e iluminação.
Os sons se misturam em mim, abarco o mundo. 
Então mergulho na música, danço, varro poeira do meu chão, limpo o coração das folhas de outono, seco lágrimas, aspiro sonhos, acredito, porém enquanto faço isto sinto que há muito mais...

Valeska de Gracia